Saí de casa à uma e meia da manhã.
Saí porque não conseguia dormir e não aguentava mais estar só, precisava de ouvir a voz de alguém e a tua já não é minha, já não falamos a uma voz.
Primeiro salvou-me a Inês, falou e deixou-me falar por muito tempo, até chegar a Marta e o António, que nos salvaram aos dois. Vão voltar para Huambo, nada mais os prende aqui, toda a família está lá.
Às cinco da manhã dá ainda mais que pensar, a Inês concorda, à medida que envelhecemos aprendemos que mesmo aquelas pessoas que nunca pensámos que nos pudessem magoar um dia o fazem, que iremos sofrer muitas vezes por isso e que doi mais a cada vez que volta a acontecer. Mais uma hora e todos concluimos que o nosso instincto básico não é o da sobrevivência mas o da família, que qualquer um de nós daria a vida por um filho ou um irmão, precisas do meu sangue, dos meus olhos, do meu coração? leva-os já.
Cheguei a casa e só pensava em encontrar a pulseira onde se lê F.A.M.I.L.Y. , iniciais de "Forget About Me, I Love You", ou "Não te preocupes comigo, eu amo-te". Adormeci com ela no pulso e ainda não a tirei, talvez nunca o faça, afinal não estou só, afinal o amor.
Agora tempo é tudo o que preciso para ser feliz.
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